8 de jan. de 2012

Lucky Man


Depois do filme eu vi com ela, enquanto a gente se esmagava na cama de solteiro que tem no meu quarto, eu resolvi falar.
- Tenho uma coisa indecente pra te falar.
- Fala.
Me aproximo do ouvido dela.
- Eu te amo.
Ela abre aquele sorriso encabulado dela e diz:
- ...
- Ainda não acabei.
- Que mais?
Me aproximo do ouvido dela de novo.
- Eu te amo.
A gente fica naquela tensão pré-beijo que não devia acontecer.

E isso é tudo que eu tinha pra dizer a ela se pudesse dizer mais alguma coisa a ela.

Me imaginei dizendo isso em tantas entonações, em tantas situações. E quando ela me disse que efetivamente estava indo, eu senti algo estranho. Um incomodo. E me pareceu que todas minhas intenções, de alguma maneira, não iam dar certo. Achei que era por, mais uma vez, eu estar moldando sentimentos à situações. Depois notei que por toda minha vida, moldei minha paixão por ela em outras pessoas. E que os sentimentos que eu, com um fundo de realidade, forjava, eram baseados no sentimento real sobre ela, que eu tinha enterrado. E que todas aquelas garotas que tinham alguma coisa pra me despertar essa vontade de forjar, tinham essa alguma coisa derivada dela.
É como se eu tivesse um livro favorito e ficasse negando esse favoritismo enquanto afirmava minha preferência sobre todos aqueles a quem aquele livro influenciava. É como odiar o ódio.

Me tornei cético de você. E, dizem, eu não deveria ter sido tão cético. Esse ceticismo, que eu tinha abandonado nos dois últimos dias antes de você ir ao meu encontro, voltou quando você disse estar indo. Mas por que ele voltou exatamente nesse dia?

Por algum motivo, eu soube que não ia te ver naquele dia. Mesmo você dizendo "estou saindo daqui agora". Por algum mistério, eu soube que não ia te ver. Por isso, nem respondi. Achei que era a desconfiança que sempre tive de você.

Mas por que, exatamente nesse dia? Pra'quela frase? "Até daqui a pouco".
Por que, justamente essa frase, eu não acreditei? Justamente essa 'promessa' que não se cumpriu?

Não sei se até agora estaríamos juntos. Não sei se o nosso amor tão poético e tão velho, já teria sido morto pela rotina, mas, mesmo no pior dos casos, seria tão melhor. Mesmo que a gente tivesse brigado feio, e eu passasse a te odiar (de novo), ia ser tão melhor. E eu nem saberia o inferno que teria evitado. Da mesma forma, não tenho idéia de quantos infernos piores que o meu existem. Quantos outros infernos eu já evitei enquanto reclamava das minahs dificuldades?

Dificuldade é o caralho. O meu problema é perder as coisas boas por ficar chorando as coisas ruins.

Estou tentando aproveitar as coisas boas, mas você me persegue. Você ainda é a garota dos meus sonhos e qualquer moça com quem eu for ter alguma coisa vai ter que ter algo de você. Quem sabe eu tenho sorte e acho outra de você.

Aí eu lembro de como eu sou sortudo.

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