25 de jul. de 2011

Letter For An Unattempted Suicide #8 (Para A.)



Quase te liguei, mas não quis te acordar. Principalmente por que sei que nada que você disser vai mudar minha cabeça dura. O principal é, uma hora ou outra eu ia voltar a me sentir assim. Eu sei, a gente ia terminar um dia. O fato de ter sido mais cedo do que eu esperava não muda nada.

Com isso, quero dizer que minha depressão e minhas tendências suicidas não são culpa sua. Nem mesmo culpa da morte da C.. Hoje foi só mais um dia que eu desejei a morte. Isso é rotina pra mim. Me incomoda muito, mas é rotina.

Se eu morasse em algum lugar alto, num apartamento, já teria me matado há tempos. E se não tivesse ainda, por algum motivo, hoje eu me jogaria, ouvir aquele som de vento (o mesmo de quando você coloca a cabeça pra fora do carro numa estrada) e, por fim, morrer.

É tudo que eu mais desejo, mesmo quando estou com alguém, no fundo, o desejo está lá. A minha morte, causada por mim mesmo, é só uma questão de tempo.

Eu tento achar motivos pra esse desejo, saudade de você, saudade da C., saudade do meu pai, mas no fundo, não tenho nenhum motivo. Meu motivo é só estar de saco cheio de viver. Todo dia.

Por mais que eu encha minha cabeça com amores, o desejo está aqui.

Não tenho motivação pra fazer nada, e quando faço algo é por que me obrigo a tentar. Ainda procuro algo pra me fazer querer viver, mas não tenho nem ideia do que.

E, da mesma forma, não sei por que continuo buscando ajuda de amigos. Nada adianta, A.. Nada nada nada.

Para as pessoas com cabeça normal, cada dia que eu não morro é uma vitória. Pra mim, cada dia que eu não morro, é uma derrota. É a minha covardia diante do suicídio. Minha vontade mais pura que, todo dia, eu não consigo realizar.

Isso não é nenhuma coisa horrível, sabe? Apesar das crenças e religiões dizerem o contrário, se matar não tem nada de ofensivo. É egoísta, sim, mas só por que a nossa sociedade é baseada em sentimentos, em família e amigos e tal. Mas veja, por que eu devo continuar levando algo que me incomoda tanto, só para não causar dor nos outros? Eu devo me sacrificar para que os outros não sintam dor? Por que diabos EU tenho que suportar tanto vazio? Pelos outros? Não é feio viver pelos outros?

Queria uma resposta sua agora, mas você está dormindo. Queria conseguir sentir motivação pras coisas. Queria poder passar um dia sem precisar fingir que tá tudo bem pra quem vê de fora.

Não tenho medo de morrer. Tenho medo de sentir mais dor. Por isso, nunca cortei os pulsos. Por isso, nunca tomei água-sanitária. Por isso, nunca me joguei na frente de um ônibus. Mas, veja, qualquer sexto andar dá conta do recado. Qualquer arma de fogo dá conta do recado. Infelizmente, pra mim, não tenho acesso à essas coisas.

Sinto falta de viver, mas ora, como posso sentir falta de algo que nunca fiz?

Quero o fim. Preciso do fim. O quanto antes.

Eu sei que a C. se sentia dessa forma (já havíamos conversado sobre isso), por isso nunca a condenei por tentar se matar. Da mesma forma, não penso "coitada, foi tão cedo". O que penso sobre a morte dela, na verdade, é: "sortuda! foi primeiro que eu! e nem ficou com a fama de suicida, ainda por cima!".

Acho que essa mensagem nem merece resposta. Não há o que responder. Só precisava desabafar.

*.log - house
*.mp3 - Philip Glass - Metamorphosis Five
*.txt - none
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3 comentários:

Anônimo disse...

ja tomei agua sanitaria mas era ruim e deixei pra la.
mas olha, vc pode me citar uma vez? sei la. fala qualquer coisa aí de B.

Edmundo disse...

Eu acho que não tem coisa mais rídicula de ver do que você com sono durante o dia. Você poderia aplicar o mesmo à esses outros eus que povoam a sua cabeça. São todos imaginários. Além do que, você é a única pessoa que me ouve quando eu não tenho mais o que fazer.

Edmundo disse...

Eu nunca tomei àgua sanitária, mas já comi cera de vela.